quarta-feira, 26 de março de 2008

Sob o signo de escorpião

Sabe aqueles assuntos que surgem numa mesa de bar, no auge da empolgação etílica e que acabam virando teoria? Pois é, ontem eu e mais duas amigas queridíssimas - idênticas na loucura e com umas a mais na cabeça - estudamos minuciosamente a personalidade da escorpiana.
Tem gente que pode até achar que existem muito mais coisas interessantes pra se conversar num boteco, mas até a pessoa mais cética já se viu bisbilhotando seu signo um dia. E é interessante poder falar sobre suas qualidades e defeitos com pessoas que te conhecem mais do que você mesmo.
É verdade, sou escorpiana, com muito orgulho. E ontem me descobri mais escorpiana do que nunca!
Se você cruzar com uma pessoa honesta, corajosa, íntegra, intensa, charmosa, cativante, apaixonada, reservada, perspicaz, enigmática e fiel até a morte, você terá topado com uma escorpiana. E sem falsa modéstia, devo ter sim a maioria dessas características.
A escorpiana é muito envolvente. Carrega uma aura de mistério em torno de si e cativa com facilidade. Quando se apaixona, adora se entregar de corpo e alma, mas também cobra de quem ama em intensidade e fidelidade.
É capaz de fazer os maiores sacrifícios quando ama e talvez seja por isso que sofre tanto por amor. Mas o melhor de tudo - embora tremendamente ligada ao sexo - a pessoa de escorpião é tão seletiva que prefere uma vida monástica a transar com qualquer um.
Diferente do que a maioria pensa, a escorpiana não é traiçoeira. Pelo contrário, tem um senso de lealdade absurdo - e se você mantiver sua palavra, ela manterá a dela sempre.
Ela nunca mente, só omite - e na maior parte das vezes está repleta de razões, porque sua fabulosa antena psíquica pescou que o interlocutor em questão não é lá muito confiável. E ainda é provida de uma sensibilidade que chega às raias do insuportável, que detecta as piores intenções até nos melhores sorrisos, e assim acaba se tornando uma pessoa difícil, se fechando em si mesma.
Mas por ter essa sensibilidade incrível,
acaba se tornando muito solidária com o sofrimento alheio, pronta pra ajudar sempre.
E por fim, uma escorpiana nunca foge de problemas. Não fuja dela, portanto, a não ser que você queira passar o resto da vida bocejando entediado.

PS.> Certos trechos desse texto foram emprestados de outro de quem realmente entende do assunto. É que não dá pra sair de uma mesa de bar expert em astrologia, né?

Música do dia: Right To Be Wrong, Joss Stone.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Mais um da Tati

Impressionante como a Tati tem a manha! Já virei até fã (apesar de parecer mais uma amiga íntima).
Adoro seus textos e sempre encontro algo que tem tudo a ver com o que estou vivendo. Adivinha meus pensamentos ou, tadinha, é mais uma sofredora-sonhadora-apaixonada-guerreira, como eu. E esse texto aqui podia ter sido meu. Com vocês, The Killers, by Tati Bernardi.

"Sempre que uma situação começa a ficar boa ou simplesmente começa, solto minhas frasezinhas bombas. Não sei se com isso quero realmente foder a minha vida ou me proteger de me foder. Acho que segundos antes de explodir tudo, penso assim: se eu falar a frase mais errada do mundo, só os realmente fortes sobreviverão. O que eu não percebo é que no começo de alguma coisa, ninguém ainda é realmente forte para agüentar minhas frasezinhas bombas.
E todo mundo, sem exceção, acaba correndo assustado. E no dia seguinte eu acordo com aquele misto de vitória com tristeza. Sozinha novamente. Como se isso fosse um prêmio mas também uma doença.
Dentre as minhas frasezinhas bombas tenho três prediletas “tô morrendo de saudades de você”, “a vida sem amor é uma merda” e “você me dá pouca atenção”. Quase nunca tô morrendo de saudades de alguém, não existe a menor chance de eu amar algum desses trastes que me aparecem e caguei se eles me dão ou não muita atenção. Mas ainda assim falo, ainda assim mando uma frase dessas. Só pra ter o triste prazer de ver o covarde ficando branco, escondendo os dentes, enfiando o pinto no cu. E sumindo finalmente da minha vida.
É o jeito que arrumei de me rebelar contra essa hipocrisia masculina. Eles podem dormir na casa da gente, enfiar o pauzinho no meio das pernas da gente, pedir uma torradinha com requeijão de manhã, mijar pra fora do nosso vaso, contar a vida deles e pedir mais carinho nas costas. Mas não suportam ouvir no dia seguinte um simples “gosto de você”. Covardes de merda. Odeio essa hipocrisia masculina. Se eles falam mil vezes que querem te ver é tesão, e você não pode se assustar, mas se você falar uma única vez que quer vê-los, é porque você é uma mala que está “misturando sentimentos”. E eles podem se assustar. Que preguiça desse planetinha dos macacos e suas bananas.
E sigo com minhas frases matadoras. “Pensei em você hoje”; “Voltei antes pra te ver”; “Vamos nos ver hoje?”; “Vamos comigo na festa da minha amiga?”; “O que você vai fazer no feriado?”
E tenho cada dia mais nojo de como frases ditas pra ser agradável soam como um assassinato. E tenho nojo de pensar que quando você tira o controle deles, eles não sabem mais o que fazer com você. “O que eu vou fazer com uma mulher que eu já conquistei?” Que tal continuar conquistando todos os dias, seu idiota? Que tal viver uma história que passe da primeira página? Tenho cada dia mais nojo de como as pessoas se consomem e não se conhecem, não vivem nada. Não sabem nada da vida da outra a não ser o tamanho dos peitos e se o desenho dos pêlos é mais para Claudia Ohana ou bigodinho do Hitler.
Sempre lembro de uma vez que fui passar cinco dias com um namorado no alto de uma montanha e ele me apareceu com um verdadeiro “kit putaria”. Passou antes no sex shop e comprou de óleo de massagem a roupinha de enfermeira. Tenho certeza que fez isso porque pensou “que porra vou fazer com uma mulher cinco dias em cima de uma montanha a não ser trepar”? Se fosse algum dos seus amiguinhos eles poderiam rir, se divertir, beber, conversar, apostar corrida, jogar videogame, brincar na piscina, fazer trilha. Mas com uma mulher? Um ser estranho chamado mulher? Que porra ele iria fazer, não é mesmo?
Homens acham que a página 1 é trepar e a página 2 é casar. E como têm pavor da 2 (e quem disse que as mulheres também não têm?), acabam nunca saindo da 1. E nisso conversas incríveis, descobertas maravilhosas e histórias lindas morrem antes mesmo de nascer. Eles podem te comer, mas jamais passear de mãos dadas com você.
Isso tudo me dá um bode profundo. Mas no fundo tenho mais bode é de mim. Por ter dito frases desse tipo para pessoas sem nenhuma magia, sem nenhuma poesia. E que ao invés de enxergar beleza enxergaram “carne ganha”. E no fundo eu nem sentia nada por essas pessoas, estava apenas testando a hipocrisia do mundo. Estava apenas comprovando que se tratava apenas de mais uma “carne podre”.
Acho de verdade que a puta da Glenn Close estragou a vida de algumas mulheres. Basta você dizer um inocente “você é legal” pro cara achar que você vai se mudar pra casa dele, mergulhar o poodle dele numa panela fervendo e parir trigêmeos bem no dia do futebol com os amigos. Da onde eles tiram que somos tão assustadoras? A gente só quer ter com quem rir no final do dia e ganhar alguns beijos no lugar certo. Nada muito diferente do que eles querem.
Mas cansei. Definitivamente cansei. Cansei de um mero “nossa, tava pensando em você” equivaler a um “nossa, tava pensando em você de terno e gravata no altar de uma igreja”. Já que pouca coisa assusta tanto, decidi que agora vou jogar pesado. Daqui pra frente minhas frases matadoras vão ser de “quero ter um filho seu” pra pior. Quem quiser sair comigo vai ter de ouvir “posso dormir aqui?” ou ainda “acho que posso me apaixonar por você”.
E quem sobreviver a esse verdadeiro extermínio de pretendentes, vai descobrir que eu sou só mais um ser que morre de medo do amor e da convivência. Vai descobrir que falo as frases erradas justamente pra espantar as pessoas e não ter mais trabalho. Mas de verdade (e dessa vez sem medo de assustar ninguém) adoraria encontrar alguém que resolvesse correr esse risco junto comigo."


Mais uma música: Piece of My Heart, Janis Joplin.

Changes

Demorei um pouco pra voltar a escrever...talvez minha inspiração tenha ido embora junto com o meu amor-próprio, naquele dia fatídico, nomeado por mim como o "Inesquecível Dia do Pé-na-Bunda".
Lamentos à parte, quando realmente consegui sair daquele estado quase mórbido de mulher mal amada, resolvi que mudaria muita coisa dali em diante.
E radicalizei, começando pelo cabelo...passei a tesoura numa cabeleira que já mantinha há 3 anos. Teve gente que não acreditou, me chamou de louca. Mas engraçado como um corte de cabelo pode te devolver a confiança. Me senti bonita, poderosa, como se tivesse tirado uma tonelada de cima de mim.
As outras mudanças, as internas e mais significativas, estão em vias de serem realizadas. Só que isso demanda um pouco mais de tempo.
Certa vez, uma amiga próxima, ao me consolar, disse que se eu quisesse que as coisas começassem a mudar e ter um desfecho diferente na minha vida, eu teria que começar a agir diferente. Que eu teria que começar a mudar minhas atitudes e a forma como me portava diante dos relacionamentos e das pessoas. Aquilo mexeu comigo.
E pensando bem, as atitudes que você têm diante da vida, com certeza, vão atrair atitudes semelhantes. Se eu não começasse a me dar valor, quem me daria?
Ao contrário do que diz a história, cortar meu cabelo me deu uma força danada!

Música do dia: Boa Sorte/Good Luck, Vanessa da Mata e Ben Harper.

sábado, 15 de março de 2008

Finito

Ela não esperava nada daquele relacionamento. Nunca acreditou que um dia ele viesse a se apaixonar por ela. Não porque não confiasse no seu poder de encantamento, mas sabia que a atração era o único motivo de ficarem eventualmente juntos.
Nunca tinha olhado pra ele com desejo, nenhuma vez. Pra falar a verdade, ele nem fazia seu tipo. Era farrista, popular demais. Seu rosto denunciava mais idade do que realmente tinha. Era rude e debochado.
Dava sempre de cara com ele nos lugares. Mas sempre o viu como mais um amigo do seu irmão. Um cara bacana, divertido, e só.
E ela não sabe quando, mas a conversa dele começou a se tornar incompreensivelmente interessante. E quando ele sorria seu rosto se transformava...era bonito vê-lo sorrir. Sempre denunciava sua malícia. Começou a notar que ele bem que podia fazer seu tipo.
E um dia qualquer, numa farra qualquer, com umas cervejas a mais na cabeça, trocando idéias sobre música, veio o beijo. Lascivo. Provocante. Devorador.
E foi assim a noite inteira. E foi assim mais tarde em sua casa.
Quase transaram naquele dia. Eles arderam até de amanhã, mas ela não cedeu. Pensou que não seria certo se entregar na primeira vez. O que ele iria pensar dela? Será que ela ia se sentir bem depois?
O clima pesou, ele foi embora, e ela se sentiu pior. Devia ter dado de uma vez, pensou. Achou que eles não ficariam mais. E foi dormir frustrada.
Dali em diante, surpreendentemente, sempre se pegava pensando nele. E ria daquele pensamento ridículo. Ficava desdenhando, nunca poderia se apaixonar por ele. Sabia que ainda amava outro homem, então como poderia se sentir feliz em lembrar daquela noite?
E sem ela esperar, aconteceram outras noites, e todas foram completas. Ele fazia tudo do jeito que ela gostava, a satisfazia plenamente. E percebia que ele também se realizava com ela. Deliciavam-se no corpo um do outro. Cada vez que ficavam tinha um sabor diferente, sempre melhorava.
Mas o outro dia sempre chegava. Ele não ligava, não queria saber da vida dela, não se importava. Ela agia da mesma forma, conformada. Sabia fingir muito bem. Qualquer pessoa que a perguntasse sobre esse relacionamento saía convencido de que ela era uma mulher cabeça, moderna e que tinha plena consciência de seus atos. Que não iria sofrer, porque sabia que era só um caso, nada mais. Até ela chegou a acreditar nisso. Mas isso não durou mais do que um segundo.
Há poucos dias, ela se descobriu gostando dele verdadeiramente, curada do amor antigo. E contrariando o bom senso, ela se sentiu bem, muito bem. Sentiu-se leve, feliz. Sentiu-se viva de novo, liberta de um outro amor que a maltratava há muito tempo. Podia estar apaixonada por alguém - mesmo sabendo que não seria retribuída da mesma forma - mas essa paixão a resgatou do fundo do poço. Era grata por isso.
Até àquele fatídico dia.
Ela sabia sempre onde encontrá-lo, era muito fácil provocar um encontro. E foi o que fez naquele dia. Saiu de casa, como todas as outras vezes, dizendo que ia se divertir muito e que não esperava nada dele àquela noite. Se eles ficassem, ótimo. Se não, paciência. Ela voltaria pra casa sozinha, sem nenhum problema. Mas ela tinha o dom de se enganar. O seu único objetivo era dar a oportunidade de ficarem juntos.
E dessa vez, como de costume, ele a levou pra casa – e tadinha dela, foi cheia de esperanças, se perguntando o caminho inteiro quando finalmente ele iria ceder à tentação e beijá-la. Mas não ficaram. E ela precisava confessar que foi tudo muito estranho. Seu mundo ilusório tinha acabado de desmoronar.
Ele não a queria mais. Cuspiu na sua cara a verdade de não sentir mais nada por ela. Que não poderia levar adiante esse tipo de relacionamento. Primeiro, porque ele nunca quis ter um relacionamento. Não agora. Não com ela. Ele sempre tinha deixado isso muito claro. Segundo, porque ele a considerava, e sabia que continuando essa farsa, não faria bem pra ela. Não faria bem pra ninguém.
Ela tentou demonstrar segurança, tentou mostrar que aquilo não a afetaria tanto. Que nem sabia realmente se gostava dele, ou se ele era só uma cara especial que a fez esquecer um outro que não a merecia. Falou um bocado. E quase o convenceu, se no último minuto ela não tivesse pedido um último momento com ele.
E naquele momento ela o perdeu de vez. E com ele, foi junto seu orgulho, sua paz. Ninguém consegue gostar de outra pessoa que não tem um pingo de amor próprio. Que se entrega dessa forma desenfreada. Com essa carência e insegurança.
E ela se odiou por isso. Não pela cruel sinceridade dele, ou pela dureza de suas palavras. Mas por ser tão fraca, passional e submissa. Por não ter ouvido tudo calada, dito ok, ter ido pra casa e esquecido que ele existe.
Odiou-se ainda mais pelo primeiro beijo. Pelas noites juntos. Por todas as vezes que pensou nele com carinho. Por entrar nessa história, mesmo sabendo que não ia acabar bem. Por se deixar envolver. Por todos os encontros forçados. Por deixar que ele fosse a única alegria de suas festas. Por querer fazer parte da vida dele. Por ter sido alertada tantas vezes e não ter ouvido ninguém. Por ter deixado pessoas bacanas simplesmente passarem.
Ela chorou copiosamente o dia inteiro. Eram ódio, tristeza e vergonha misturados. Preferiu a solidão do seu quarto, do que os inúmeros convites pra sair. Não ia ser uma boa companhia pra ninguém. Também não queria ficar se lamentando e dando explicações às pessoas sobre sua tristeza aparente. Aquele tempo tinha que ser só seu. Da única culpada pelo seu sofrimento.
Ela sabia que ia passar. Demandava paciência e bom senso, mas ia passar. Aquela angústia ia desaparecer. A vergonha se transformaria em indiferença. E um dia ele seria apenas só mais um. Mas até lá, ela ia ter que aprender a conviver com o que sobrou da sua teimosia.
Ela procurou tanto, que achou. Provou do seu próprio veneno. Agora só precisava de tempo pra descobrir um jeito de se perder de novo.


Músicas do dia: Love Is A Losing Game, Amy Winehouse; Último Romance, Los Hermanos.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Déjà vu

Ainda sobre o final de semana, acho que cabe perfeitamente aqui o texto Romântica pra Cacete, de Tati Bernardi:

"Nem todo dia tem Sol, nem toda sobremesa é cheese cake e nem toda relação homem e mulher é romance.
E você vai fazer o quê?
Vai se matar por causa do cinza acima da sua cabeça? Vai tremer hipoglicêmica e carente porque só sobrou torta holandesa? Vai se manter virgem e intacta até aparecer o homem que vai te dar uma casa com cerquinhas brancas, cachorrinhos e bebês?
Claro que não, você vai viver a vida, curtindo o que ela tem de melhor.
E o que um bonitão que só quer te comer pode ter de melhor? Bom, eu poderia fazer uma lista. Mas a droga do romance estraga tudo isso, a droga dos filmes românticos nos enganam como as propagandas de cerveja que enchem de gostosas os babacas segurando um copinho.

Por que raios a gente tem de romantizar qualquer demonstração de carinho de um homem se na maioria dos casos eles só querem nos comer?
E por que ficamos tão putas se eles apenas nos comem e caem fora?
Quem disse que eles são obrigados a nos amar eternamente só porque conheceram de perto a nossa beleza interior? E, finalmente: que mal há em sermos gostosas e os homens quererem nos comer? Por que isso parece ofensivo? Por que nos sentimos usadas se ambos estão lá de livre e espontânea vontade?
Isso é herança das mulheres pudicas, sonhadoras e donas de casa do século passado ou a célula do romance vai eternamente se multipilcar e passar de geração em geração através das mulheres?
Eu tento, juro que tento. Mas a droga do romance não me deixa em paz.
Eu não tenho mais idade para ficar morrendo de vontade de dar para um cara e ficar enrolando até ouvir juras de amor eterno (que podem ser só para me comer), francamente isso não é coisa de mulher!
Mas depois passo anos pensando se não fui muito fácil.
Eu vou lá, mato minha vontade, tomo um belo banho, volto independente e resolvida pra casa e acordo no dia seguinte morrendo de vontade de ganhar flores, receber ligações românticas e promessas eternas.
É uma praga.
Conscientemente eu sei que nem todos os caras querem namorar comigo, e mais conscientemente ainda eu sei que eu também não quero namorar com a maioria deles. Mas lá dentro fica a dúvida: será que fui usada?
Da onde vem esse sentimento fraco, submisso, antigo, arcaico, pobre e idiota de que numa relação sexual o homem é o dominante que come e a mulher a coitada que é comida?
Claro que tem os babacas que nos fazem sentir assim, não se preocupam com o nosso prazer e agem na velocidade do prazer deles.
Mas tirando esses babacas (e depois que você experimenta um quase sempre fica descolada para afugentar os outros), por que um homem que te trata bem, te come direito, com carinho, com respeito e depois não quer namorar com você, te ofende?
E por que se ele te tratou tão bem, com tanto carinho e respeito, só quis te comer e caiu fora? Precisava se dar tanto trabalho?
A vida é complicada. E a vida é complicada porque nós mulheres romantizamos tudo, ou quase tudo. Ou justamente o que não deveríamos.
A gente faz planos mesmo em cima dos silêncios deles. A gente vê beleza em cada sumiço. A gente vê olhares de amor no mais puro olhar de tesão. A gente acaba de trepar e é batata: deita no peito deles!
Ah, o romance! Mulher que é mulher não consegue fugir de um.
Você pode até levantar apressada, fumar um cigarro, olhar a janela. Você pode disfarçar. Mas lá no fundo, bem escondido, estão seus sonhos de entrar de branco numa igreja e ver lá na frente aquele homem para quem você acabou de dar.
Você vai para o banho super senhora de si, mas enquanto a água escorre levando restos de células esfregadas e sêmens, você fica na dúvida entre se ele vai ligar no dia seguinte e o nome dos filhos. Será que ele vai ter os olhos do pai?
Eu cansei de ser assim, por que não consigo ver os homens como diversão se eles conseguem tão facilmente nos ver assim?
Por que não posso aceitar que nem tudo é romance?
Por que a droga da chuva me lembra todas as vezes que eu voltei para casa sonhando e no dia seguinte me deparei com a frieza do dia seguinte?
Por que a droga do jazz me lembra a vida perfeita que eu sonho a cada ombro cheiroso que me cega os problemas e me ensurdece a espera?
Por que a droga da noite me lembra os corpos amados que ainda que cansados e tombados nunca caíram por mim?
Aonde está você pelo amor de Deus! Aonde está você? Não vê que estou cansada de pertencer a todos e não ser de ninguém? Não vê que minha devolução me enfraquece cada vez mais em me entregar?
Não vê que na loucura de te encontrar não meço as entregas? E elas nunca são entregas porque eles nunca são você.
Porque comecei este texto tão bem e mais uma vez esqueci de ser a mulher moderna que eu tanto gostaria de ser para lembrar a mulher romântica que espera por você a cada esquina, a cada decote, a cada riso nervoso que solto em forma de grito à espera do seu socorro.
Eu vou continuar vendo você em todos esses crápulas que fingem ser você para vulgarizar o meu amor. Eu vou continuar cheirando você em todos esses suores fugazes que me querem num conto pequeno. Eu vou continuar lendo a nossa história em contos pequenos.
Cadê você que some a cada som que não me procura? Cadê você que parece ser e nunca é porque desaparece no cansaço das relações?
O meu amor acaba por todos, a minha espera cansa por todos, a minha raiva ameniza por todos. Mas a minha fé por você cresce a cada dia.
Eu posso transar no primeiro encontro, eu posso transar por transar. Eu posso trepar. Eu posso te encontrar num flat na hora do almoço para uma rapidinha. Eu posso reclinar o banco do meu carro e mandar ver. Eu posso deixar você não me beijar na boca. Eu posso aceitar que você nunca me leve de mãos dadas a um cinema. Eu posso ser uma noite e nada demais. Eu posso ser um banheiro e nada mais. Eu posso ser nada mais.
Mas eu nunca, em nenhum momento, deixo de romantizar a vida, cada segundo, por mais podre que seja, dela. Eu nunca deixo de procurar você. Eu nunca deixo de acreditar que você exista, e eu nunca deixo de acreditar que você faz o mesmo a minha espera."

Músicas do dia: Ela É, Validuaté.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A Cura

Todos nós, em algum momento de nossas vidas, somos feridos ou nos deixamos ferir.
E não conheço ninguém que não tenha passado por isso. Que não tenha se decepcionado, apostado todas as suas fichas em algo que tinha tudo pra dar errado. E você, a única pessoa teimando, acreditando que tudo ia dar certo.
Comigo aconteceu das duas formas, e talvez por isso eu tenha demorado tanto tempo com essa ferida aberta, doída. Nunca cicatrizava.
Durante um ano me vi remoendo o passado, tentando entender porque tinha acontecido comigo, porque me joguei de cabeça, porque tinha sido tão cega, e porque ainda amava tanto!
Mas nenhuma vez lembro de me perguntar: e agora, o que faço pra reverter tudo isso a meu favor?
Parecia que o passado, mesmo torturador, era mais forte do que o mundo novo que se abria à minha frente.
Me sentia aprisionada a planos que nunca tinham sido concretizados. A sentimentos nunca correspondidos. À uma confiança nunca retribuída.
E inacreditavelmente, sábado passado me descobri cu-ra-da!
Me senti muito leve, livre...
É pesado o fardo de se intitular "a vítima" de qualquer história (agora sei porque os vilões são sempre muito mais interessantes).
Vi que finalmente tinha conseguido me perdoar - talvez a maior causadora de tudo isso - e que finalmente estava seguindo em frente. E hoje sou muito feliz com a pessoa mais importante da minha vida: eu mesma!

"O passado deve ser mantido no lugar dele e não trazido nas costas feito mochila de viajante, lotado com os erros cometidos e alegrias jamais revividas. Para ser feliz é necessário pouca coisa além se livrar do excesso de carga e esquecer as coisas certas. É útil também jamais perder de vista um detalhe, afixá-lo no espelho do banheiro, repetir como um mantra: absolutamente nada é pra sempre, nem sentimentos que parecem ser. Nunca mais haverá amor como aquele? Ótimo, porque o novo é tão imenso que seria um desperdício se algo se repetisse. Todo mundo passa. E é bom que seja assim." Ailin Aleixo

Música do dia: Non, Je Ne Regrette Rien, Edith Piaf.

quarta-feira, 12 de março de 2008

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Hoje acordei com um apertinho no peito. Sonhei que me desentendia com uma grande amiga.
Talvez porque ela esteja um pouco distante, por saudade mesmo, ou por puro egoísmo em me sentir esquecida.
Só me aquietei depois que consegui falar com ela.

Não que eu tenha ficado bem - minha amiga não tá legal, portanto, meu coração segue o dela - mas naquele momento tive a certeza do meu bem-querer por essa amizade.
Pensei o que faria sem meus amigos. Me vi insegura, frágil. Foi uma idéia desnorteadora.
Lembrei do filme "Na Natureza Selvagem".
Contestador. Comovente. Do tipo que deixa a gente vidrado e pensando em um monte de coisa.
No filme, o que mais me intrigou foi a coragem do protagonista de se desfazer de tudo que pudesse aprisioná-lo, principalmente, das relações com as pessoas.
Via aquilo e ficava pensando: "Mas, pô, ninguém é feliz sozinho!".
Lembro, então, de ficar olhando os créditos subindo, e satisfeita de saber que no último minuto o personagem tinha descoberto o que todo mundo sempre soube: "A felicidade só é completa quando é compartilhada."

PS.> Moni, sou feliz de ter sua amizade...SEMPRE! E isso independe do nosso estado de espiríto, ou das dores e delícias da vida.

Música do dia: O Vencedor, Los Hermanos.

terça-feira, 11 de março de 2008

Fortaleza

Há mais ou menos um ano, meu grande amigo Rafa, com sua sábia e vasta experiência, profetizou: "O seu lugar é onde estão suas raízes. Só nesse lugar você realmente será feliz!".
Naquela época não tinha tanta certeza disso. Hoje não tenho mais dúvidas...meu lugar é aqui.

"Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura."
Alberto Caeiro - Fernando Pessoa

Músicas do dia: Vilarejo; Eu Não Sou da Sua Rua, Marisa Monte.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Um desejo...outro começo.

Existe um tempo para se idealizar mudanças, mais um para concretizá-las e outro para entendê-las.
É engraçado como fui vivenciando essas mudanças e achando que tudo tinha dado errado.
Agora começo a ver que tudo aconteceu como tinha que ser...

Para um bom (re)começo, um pouco da Arte de Ser Feliz, de Clarice Lispector:

"(...) quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."

Música do dia:
Put Your Records On, Corine Bailey Rae.