quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Presente da Moni

"Desde que ouvi recentemente, lembrei de você."
Moni
-----------------------------------------------------------------------------
"Tentou contra a existência num humilde barracão
Joana de tal por causa de um tal joão
Depois de medicada retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exaltidão
O lar não existe
Ninguém volta o que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou
Errou na dose, errou no amor
Joana errou de joão
Ninguém notou, ninguém morou
Na dor que era o seu mal
A dor que não sai no jornal..."

Notícia de Jornal, Chico.

De uns dias pra cá...

- Ando ouvindo muito Norah Jones.
É foda como ela te derruba e lava a alma, tudo junto.

- Finalmente cedi aos florais.
E não é que funciona? Alguns podem até dizer que é sugestivo, mas tô parecendo outra pessoa.

- Tô bebendo menos, fumando mais (é, me viciaram mesmo).
Ando pensando seriamente em parar. Mas engraçado como coisas que maltratam tanto seu corpo, podem também te fazer um bem danado em certas ocasiões.

- Ando comprando compulsivamente tudo o que me oferecem.
Que o Thi não me escute, mas será que existe florais pra isso também?

- Tô com uma ansiedade oscilante.
Com medo que o pânico volte.

- Sinto que tô caindo de novo em tentação.
Minha carência tem que ser objeto de estudo, não é possível!
(Mas - confesso - minha cor preferida sempre foi o azul. E não é pra entender mesmo).

- A presença dos meus amigos tem sido constante, todo santo dia.
Pode vir a avalanche que for, pois sei que vou estar bem protegida. Nunca me senti tão querida como agora.

- Tenho curtido mais minha casa, visto mais filmes, lido mais livros, saído mais pra jantar.
Pode ser efeito dos florais ou de uma "chuva de verão". Ou será que meu comportamento tá mudando mesmo? Já era hora.

- Vem crescendo em mim a vontade de voltar a estudar.
Mal é que não vai me fazer. Quem sabe não volto pra Brasília?

- A insônia me esqueceu por um tempo.
Agora os sonhos que me perseguem. Tenho sonhado muito. Na pessoa que quero ser, nas coisas que desejo alcançar. E acho que tô no caminho certo. Ou não. Veremos...

Músicas do dia: Todas da Norah.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Fazer da queda um passo de dança...

"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo da dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro."
Fernando Sabino

PS.> E hoje começa a primavera...

Música do dia:
Futuros Amantes, Chico Buarque.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ponto final

C.,

Quando mandei aquela mensagem ontem à noite pra você, não ansiava por uma resposta. Pra mim, seria uma via de mão única. Simplesmente queria que você soubesse o que eu estava sentindo. Queria desabafar pra única pessoa que interessava, o que se passava comigo.

Sabia, na verdade, que não podia esperar de você mais do que educação. Você me responderia de alguma forma – pois como mesmo disse, nunca deixa uma mensagem sem resposta. Sempre educado, como vi acontecer no seu e-mail. E agradeço por isso.

Mas você foi frio e racional em suas palavras. E eu sei que não poderia ter agido de outra forma, se é assim que você sente. Ou melhor dizendo, não sente. Se o seu intuito foi ser direto, você conseguiu. Aliás, você sabe fazer isso como ninguém.

Mas preferia que dessa vez você não tivesse sido tão sincero e usado tanto da sua boa educação. Preferia ter continuado com a impressão de que, independente do tempo que passamos juntos, tinha sido especial pra você.

Talvez eu tenha me enganado esse tempo todo e visto um C. passional que não existe. Talvez ele exista, mas se arrependeu de se mostrar pra mim. E quem sabe ele está se guardando pra outra pessoa que ele ache que realmente o mereça.

Somos dois extremos, essa é a verdade (e antes eu achava ser você meu contraponto).

Você é a razão e eu a emoção - e como eu disse na minha mensagem, nunca acreditei mesmo que os dois juntos pudessem fazer algum sentido. Você acertou, não poderia mesmo dar certo.

E eu tenho muita pena disso, sabia? Mas eu só posso falar por mim. Não posso querer guiar sua cabeça, muito menos seu coração.

Eu sei que sofro demais por ser assim, por me entregar, por ser transparente. Acabo assustando as pessoas. Talvez por isso meus relacionamentos acabem não dando certo. Nem todo mundo sabe lidar com o gostar, e muito menos sabe se doar com sinceridade, sem medo. Por isso sempre saio decepcionada das histórias, é fato. Sempre espero mais das pessoas do que elas podem me dar.

Posso estar enganada, mas acho que você deve sofrer muito mais do que eu. Por esse medo absurdo que tem de se magoar e também magoar alguém. Medo das coisas não saírem como você sonhou, ou não darem certo (mas como é que a gente pode saber, se não for tentando?). Por racionalizar tanto e pensar tão na frente, quando poderia tentar viver o hoje, e quem sabe ser feliz. Falei “quem sabe”, e sei que você não pode viver com isso. Você precisa de provas, como todo cientista. Precisa de provas pra ser feliz.

Quero que saiba que continuo achando você um homem lindo, um querido mesmo, diferente de muitos que já conheci. Como você, existem pouquíssimos por aí. E o que mais me dói é saber que não fomos feitos um pro outro. Saiba que você é e sempre vai ser especial pra mim, independente do que você pense – ou sinta.

Espero que, de alguma forma, você esteja bem com suas escolhas. E que um dia alguém consiga te provar que você pode amar de novo com segurança. E que esse amor, como você deseja, vai ser pra sempre.

Eu prefiro continuar tentando. Me dando a chance de conhecer, amando, me entregando, errando, sofrendo, me decepcionando, amando de novo. Mas vivendo.

Posso até não ter provas – e nem querer tê-las - mas tenho a certeza absoluta que um dia vou ser feliz.

Até algum dia, seu bobo.

Beijos,

D.J

Músicas do dia: Tears Dry On Their Own, Amy Winehouse; No Ordinary Love, Sade.


segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Por não estarem distraídos

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos." Clarice Lispector

Como de costume, o que é muito bom dura muito pouco.
Não é assim? A gente não acorda sempre na melhor parte do sonho?
É como se a felicidade escorresse pelos dedos tão rapidamente que não desse tempo de sentir. Nem de pedir que o tempo volte atrás.
Posso pedir a Deus pra te conhecer de novo? Mas você nem acredita em Deus.
É...durou pouquíssimo dessa vez.
Só me resta o recomeço.

E dai-me paciência!

PS.> Como disse Vinicius de Moraes, continuo achando que "a vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Mesmo sem paciência.

Músicas do dia: I Will Survive, Cake; With a Little Help From My Friends, The Beatles.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Encontro

Há pessoas que acreditam em coincidências. Outras em destino.
Eu acredito em encontros. De almas, de boas energias, de pessoas com um mesmo sentimento ou mesmos objetivos.
Talvez nem saibam, no momento do encontro, da força que as levaram até ali.
Mas elas sentem que alguma coisa de diferente aconteceu. Só não conseguem entender exatamente o que é.
Pode ter sido um olhar, uma palavra, um conjunto de coisas em comum, ou mesmo a imagem de alguém tremendo de frio que você acabou achando bonitinho.
Totalmente improvável, mas acontece.
E exatamente num dia que tinha tudo pra dar errado. Tudo mesmo. Quando você já não esperava mais nada de bom pra uma noite.
Aí vem o improvável e te surpreende. Desafia sua incredulidade. E acaba te tirando do chão.
Desperta no seu coração sentimentos até então adormecidos. Te faz rejuvenescer uns 15 anos.
Atiça a vontade de querer sempre estar com aquela pessoa. De falar com ela a todo instante.
E você não lembra de ter as mãos tão geladas. De sentir aquele frio na barriga só de pensar naquela pessoa. E em como ela te faz bem, como te faz sorrir à toa. Como a conversa dela é tão interessante e divertida.
Você descobre que - de alguma forma - tinham reservado uma coisa muito boa pra você, e exatamente quando você nem acreditava mais nisso.
Carinho, atenção, consideração, delicadeza, respeito. Tudo isso numa pessoa só.
E você se pergunta se isso tudo é real, e se tudo isso é pra você mesmo.
Você sabe que merece, e há muito tempo. Era tudo o que você sempre quis.
Mas continua achando que está sonhando - ou em coma - e que pode acordar a qualquer momento.
É verdade, dá medo. Muito. Do desconhecido. De descobrir os defeitos numa pessoa repleta de qualidades. De se decepcionar ou causar decepção. Da insegurança que se sente. De fazer mal juízo das atitudes do outro. De cometer erros. E, principalmente, de perder o lindo presente que acabou de ganhar.
Como diz uma escritora que eu adoro,
"encontrar dá medo, preguiça e uma sensação estranha de estar se perdendo", e que "gostar é começar o inferno tudo de novo".
Se for com você, não importo de me perder. E eu topo começar tudo de novo.
Mas no nosso caso, posso chamar de céu?

Músicas do dia: Por Onde Andei, Nando Reis; Super Duper Love, Joss Stone.

Pra você, meu C.

"Ele acorda e cantarola a música no banho. Over and over and over. Ela está obcecada pelo Hot Chip e passou a doença a diante.
Ele cantarola e lembra que foi nessa música que ela achou que a cadeira giratória do computador podia contribuir com a dança. Ri. Sente tesão. Acha o mundo ridículo e feliz. Lembra que tava boa a vida procurando. Encontrar dá medo, preguiça e uma sensação estranha de estar se perdendo. Será que eu vou querer namorar essa louca? Será que essa louca vai querer namorar comigo?
Aí ele lembra. Caraca! É mesmo! A menina escreve. Sem pudor. Falaram pra ele. A essa altura do campeonato, já deve ter um texto publicado falando da noite anterior. Será que ela achou bom? Será que ela vai publicar o tamanho da minha alma? Da minha tatuagem? Do meu pé?
Ele corre com o banho. Ainda cantarola, mas agora é com um pouco de medo. Precisa entrar logo naquele site desgraçado. Todo cheio de desenhinhos inacabados e leves. Mas é ali mesmo que ela acaba com todo mundo e sem nenhuma leveza.
Corre com seu carro que ainda tem o cheiro dela e uns fios de cabelo, agora castanhos escuros, pendurados no assento do passageiro. Foi bom. A noite foi boa. Ela não vai falar mal de mim. E também não vai falar nada de mim. Nem bem. Como ele quer que ela seja misteriosa e suma durante todo o dia de hoje. Ele quer sentir o frio na barriga, o nervoso pra saber se ela vai atender ou não. Não seja fácil, minha filha. Não escreve que gostou. Deixa eu sofrer um pouco. Deixa.
Ele chega na agência e não vai direto pro café. Espera ninguém estar passando atrás dele e digita o site dela. Sua frio, melhor pegar o café. Não, vai de uma vez. Vai. Abre. E de repente. Lá está. Um texto. Um texto pra ele. Caramba, ela já escreveu? É o primeiro texto que alguém escreve pra ele, tirando uma tontinha da época da faculdade que botava frases do tipo “eu sei que quando tiver de ser, será” nas cartinhas que ele nem lembra mais onde foram parar. Coitada. Agora é uma escritora de verdade. Ele ri, porque a escritora de verdade se acha um pouco dizendo que é de verdade.
Ele gosta dela. Não tem mais como fugir. É, da medo. Ela deve estar com medo também. Gostar é começar o inferno tudo de novo. Mas ela, quem diria, escreve lá no texto que topa. Topa começar tudo de novo. E faltando dois parágrafos pra terminar o texto, ela manda, na lata mesmo: “quero te ver hoje”. O que será que ele vai responder?
Ele então pega o café. E sai cantando como se o dia estivesse diferente. Over and over and over and over..."
O dia seguinte. Dele.
, by Tati Bernardi.

Música do dia: Slow Show, The National.