quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Do amor sem palavras

"(...) Fico estufada de sentimentos presos, de vontades guardadas, de um doce enjoativo, de uma acidez bem dosada, e pensando em tudo o que você não sabe. Tudo o que eu não disse. Não digo. Vou procurando me desfazer das metáforas todas (...)
(...) E o que eu mais queria era poder te contar do céu que enxergo em teu olhar e das estrelas todas que já andei pendurando nele. Ai, essas metáforas descabidas me arrasam! Sabe o que eu vejo de mim? Personagem do cinema mudo de antigamente. Expressões e gestos que dispensavam palavras (...)
(...) Aí eu entendo o porquê de perder o som. Penso que as palavras soando no universo do teu eu, vigiado por esses olhos claros, me fazem correr o risco de cair pra dentro de você. E eu sei que vou gostar tanto, que não vou querer mais voltar. Resolvo arriscar agora, que teus olhinhos de conchas se fecharam com os brilhos das pérolas que carregam:

- Eu já amo você, menino. - digo, num sopro que te beija inteiro."

http://liricass.blogspot.com

Música do dia: Não é Fácil, Marisa Monte.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Dilema

A dúvida anda me perseguindo esses dias. Mais precisamente há uma semana.
Recebi a notícia da convocação pra um novo concurso. Ok, aceito os parabéns, porque sei o quanto estudei pra que isso um dia acontecesse. E não vou dizer que não fiquei feliz. Fiquei sim.
Sei que qualquer ser humano normal, dotado do seu juízo perfeito, daria pulos de alegria. Talvez nem pensasse duas vezes.
Também, qual a pessoa, nos dias de hoje, que não gostaria de ter estabilidade num cargo público? Todos levantariam a mão.
Mas aí vem o restante da história.
O problema é que eu fui escolhida...mas pra morar em Brasília. Exatamente isso: retornar à Bsb. Fazer o caminho inverso.
Tudo bem que amo Brasília. Amo mesmo, acredite quem quiser! Tudo bem que já morei lá e não teria problemas em me readaptar. Além do que, tenho muitos amigos lá que me esperariam de braços abertos, e me dariam todo o apoio necessário.
Mas Fortaleza agarrou nos meus pés mais do que tudo. Enraizei de novo nessa terra, e fundo.
E agora não sei como fazer o caminho de volta. Meu coração ainda não me disse nada.
Já tentei seguir os conselhos que me chegam, pesando tudo. Medindo os prós e os contras.
Mas meu coração continua calado.
Só sei que o tempo está passando, e decisões têm que ser tomadas.
Mas meu coração, até agora, continua mudo.
Espero ansiosamente por um sinal, uma resposta. Ou por uma coragem vinda não sei de onde.
Mas meu coração...nada!

Música do dia: Somewhere Only We Know, Keane.

domingo, 19 de outubro de 2008

Antes que seja tarde demais...

"— Abraça tua loucura antes que seja tarde demais — ele disse, e seus olhos tinham a cor do mar. Tinham a cor exata de quem por muito tempo, todas as horas, todos os dias de muitos meses e anos, olhou detidamente o mar, acompanhando o vôo das gaivotas, interrompendo-se em rochedos, nivelando-se ao movimento incessante das ondas. Verdes de um verde movediço entre o denso do vidro e o suave da hortelã recém-plantada, líquidos como água móvel, interior de gruta, rasos de pedras claras. Visíveis, os olhos vivos do marinheiro me olhavam molhados pela chuva, vértice de um novo movimento para onde eu convergia inteiro.
Para olhá-lo, também eu precisava de certa loucura. Essa, que me indicava. A mesma a que me tenho negado em susto, atravessando cotidianos de monótonos côncavos deliberados, movendo-me pelos labirintos coloridos desses interiores sempre previstos, embora absurdos.
Não havia sol naquela tarde, nem cores caindo sobre os objetos. Eu não estava distraído nem tinha disfarce algum quando ele me olhou. Ele não tinha nenhum disfarce quando eu o olhei. Mas não devia me permitir escorregar naquele mergulho de peixes quem sabe vorazes, isso só compreendo agora, e com esforço, sete dias depois de sua partida, uma garrafa de vinho tinto, a chuva se foi, restaram o frio e a umidade que amolece papéis e vontades, aberta ao lado da janela escancarada para a noite enorme lá fora, onde ruge uma cidade estufada de rumores e procuras.
Preciso dizer neste momento, embora talvez não caiba aqui. Ainda que me tenha isolado assim drástico, ainda que elabore dentro de mim e da casa pacientes, irrefutáveis justificativas para ter cerrado as portas ao de fora, o humano que afastei através dos vidros coloridos, esse humano dói, palpita, ofega, tem ritmos suarentos fora de mim.
À minha frente, porta entreaberta, gotas da chuva caindo sobre sua roupa branca como se eu tivesse acendido uma vela com o pavio voltado para baixo, o marinheiro me olhava.
— O quê? — perguntei. Só compreendo agora, talvez não pudesse aceitar o convite. Perguntei como quando você diz acho que vai chover ou está frio hoje, ou me dá um cigarro, qualquer outra coisa assim sem importância, pressupondo que eu e ele nos movimentaríamos ainda segundo os ritmos mecânicos, na dança urbana dos passos ensaiados de além dos vidros pintados de roxo-amarelo.
Mas ele repetiu claro:— Abraça tua loucura antes que seja tarde demais."
O Marinheiro, Caio Fernando Abreu.

Música do dia: Lovesong Of The Buzzard, Iron & Wine.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Não gosto de ser só...eu gosto é de sossego!

Descobri esses dias que não sei coabitar com outras pessoas. Ou, no mínimo, preservo minha individualidade acima de tudo. E abro aqui um parêntese - eu disse coabitar, não conviver.
Sei lá, pode ser TPM. Pode ser até da idade. Mas me dá uma impaciência chegar em casa e ver que nada está como eu deixei.
A verdade é que adoro ficar sozinha no meu canto, curtindo o silêncio da minha casa. E na minha casa, tudo tem que estar do meu jeito. Tudo limpo, com cheirinho de novo. Bagunça só a minha, onde me acho.
Odeio a bagunça dos outros. Me incomoda o barulho que eles fazem. Barulho mesmo só o som da minha tv ligada - até altas horas da noite - ou quando insisto em ouvir o mesmo CD - quando eu nomeio o melhor da semana.
Acho que foi Brasília que me deixou assim. Os três anos passados no Planalto Central me obrigaram a conviver mais comigo mesma - e na maioria das vezes, SÓ comigo.
Lembro ainda com um gostinho de saudade - mesmo que a carência fosse imensa - de quando chegava em casa à noite, depois de um longo dia de trabalho. Meu apartamento pequeno - mal me cabia - mas me transmitia um sossego que ainda não encontrei por aqui. Gostava de ouvir o silêncio que ele tinha.
Amigos fiz aos montes, saía pra caramba - reafirmando que boa convivência sempre tive, aqui ou em qualquer lugar do país. Mas morar sozinha, longe da sua família, ainda mais num lugar estranho, com pessoas que você nunca viu na vida, te impõe a conviver com a solidão. E você acaba, sem querer, gostando dela.
Lembro de como sonhava em voltar pra cá e ter uma casa só minha e tudo que ela acarretaria. Recordo da satisfação da mudança, de arrumar tudo com meu jeitinho, mesmo com as poucas condições do momento. Nunca fiquei tão feliz em pagar contas e gritar aos quatro cantos minha independência e privacidade.
Até hoje minha mãe não entende - e por isso mesmo se tornou o motivo de brigas contantes - minha necessidade de estar só. De não querer visitá-la com uma certa frequência, ou dormir na sua casa. De não querer conversar sempre, ainda mais sobre coisas que não me interessam.
Brasília me tornou egoísta, confesso. Mas também me fez conhecer melhor. Me fez perceber manias, defeitos, qualidades. Me fez dar valor a coisas que antes eu não dava a mínima importância.
Mas isso não quer dizer que eu não adore conversar horas a fio com um amigo. Que não tenha o prazer de receber pra muitas reuniõezinhas na minha casa - e olha que já fiz muitas! Não quer dizer que eu não queira sempre comer da comidinha da mamãe, e ainda ser paparicada por ela. E nem por um momento quer dizer que não ame dormir abraçadinha ao meu amor.
Isso, repito, é convivência.
Coabitar é outra coisa. E pra isso, eu sozinha me basto.

Música do dia: Thank You, Dido.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Bom dia!

"Bom dia para todas essas coisas que virão e que foram e que estão. Porque quando se sente tanto a vida não importa nenhum momento solto e não importa que nomes tiverem esses momentos, mas apenas toda essa força que sempre esteve aqui. Mas que só agora eu consigo pegar, amassar, apertar e dar bom dia. Bom dia! Bom dia! Bom dia força! Bom dia prolapso da válvula mitral. Eu sei que você está enlouquecido e com medo de morrer. Mas até sua quase morte merece um bom dia. E então vai dar tudo certo.
E daria bom dia, hoje, para todas as lanças. Bom dia lanças maravilhosas que me dilaceraram tanto e me trouxeram até a melhor manhã da minha vida. Dou bom dia para todas as minhas cicatrizes. E abraçaria pés na bunda e beijaria caras de lado e velaria sonos de quem já me estatelou os olhos sem esperança de tranquilidade. E mostraria inteiros para quem negocia partes. Porque hoje é o dia de dar bom ao fim da dor, ao fim da vingança, ao fim da espera, ao fim da defensiva. E dar bom dia ao início da primavera, ao início da minha beleza e ao amor. Finalmente. Bom dia ao amor. E bom dia para essa risada que sai livre, solta e que eu nem percebo que é risada porque não consigo olhar pra fora da pele de tanto que é bom ficar aqui dentro. Hoje é o dia de dar bom dia a mim." Mais um da Tati.

Música do dia: I Can See Clearly Now, Johnny Nash.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Seus olhos...meus olhos...um sorriso


"Você não sabe o que foi aquele beijo. Havia em seus olhos uma multidão de estranhos que, de repente, parou instantes para olhar. Empurrei os seus olhos com os meus e ouvi o silêncio dos seus pensamentos, já não sabendo se aquilo que eu pensava era meu ou se era dele, porque olhar nos olhos de um estranho é se deixar espiar por estrelas. Como se aquilo que eu pensava também já fosse tarde demais, meus pensamentos sugados pelos olhos do outro. Havia naqueles olhos uma correria inútil de tampar segredos e eu soube de todos eles, não por meio de palavras, mas por meio de silêncios. Eu nunca soube decifrar silêncios, mas posso tocá-lo com a ponta dos dedos. Assim eles ficaram, os segredos daquele olhar, no canto das coisas que eu pensava e pensava, antes de aproximar os meus lábios. Você não sabe o que foi aquele olhar. Os olhos dela eu nunca mais vi, não eram os olhos que me fitaram, de maneira fugidia, como na primeira vez. Eram olhos que guardavam perguntas inocentes, e eu quase arrumei de volta os seus cabelos, abotoei a sua blusa e lhe pedi desculpas por ter faltado com o respeito. Mas sorrisos são pontes que se abrem no rosto para o outro poder passar. E só por conta daquele sorriso eu atravessei a distância entre o meu rosto e o dela para encostar os meus lábios aos seus."
Rita Apoena

PS.> Li e lembrei de você. Incessantemente.

Ouvindo algumas dos Beatles.

Faz-de-conta

- O que vai fazer hoje à noite? Aceita uma sugestão?
- Com certeza!
- Que tal a gente comemorar aquele aniversário? Mas só nós dois...topa?
- Topo! Você quer ir pra onde?
- Você pode ir pra qualquer lugar?
- Eu posso ir pra qualquer lugar com você. Sou todo seu.
- Mas por que eu sempre tenho que te lembrar isso?
- Não sei...essa é uma coisa que temos que mudar.
- Só depende de você.
- Posso começar com um beijo?
- Tá esperando o quê? E faz o favor de não tirar mais esse azul de cima de mim.

Mas nada muda. Tudo foi como tinha que ser: perfeito e irreal, como sempre.
Tem gente que insiste em brincar de faz-de-conta.

Música do dia: What Am I To You?, Norah Jones.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Vazio

Sentadas numa mesa de bar, elas conversam animadamente. E surge a pergunta:
- Se você pudesse fazer um pedido agora, qual seria?
Ela parou por um tempo. Não para pensar no que dizer - porque seu desejo ela já sabia "du coeur" - mas para medir as palavras, tendo a certeza que não ia ser recriminada por aquele pensamento.
Que se dane! - pensou. Esse era o único desejo que lhe vinha à cabeça, e ninguém tinha nada a ver com isso.
- Eu queria que ele me procurasse um dia. E que a gente pudesse conversar de vez em quando. Sinto muita saudade das nossas conversas. Eram bobas e divertidas, mas deliciosamente interessantes. Sinto falta da presença dele na minha vida. Sinto um vazio agora.
- E o seu? - quis mudar logo de assunto.
- Eu queria tirar as amígdalas - disse a outra, soltando uma gargalhada, acometida por uma dor de garganta infernal.
- É...cada um sabe onde lhe aperta o sapato. Ou a garganta...ou o coração.
- Quer mais uma cerveja?
- Manda descer uma caixa.

Música do dia: Socorro, Cássia Eller.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Aumenta o som, DJ!


Músicas que não saem - nem por decreto! - do meu som ultimamente (e necessariamente nessa ordem):

1- Something, The Beatles/Jim Sturgees (versão do álbum Across the Universe¹, de 2007);
2- What I Am To You?, Norah Jones (lançada no álbum Feels Like Home, de 2004);
3- All My Loving, The Beatles/Jim Sturgees (versão do álbum Across the Universe, de 2007);
4- Everybody's Changing, Keane (lançada no álbum Hopes and Fears, de 2004);
5- Don't Know Why, Norah Jones (lançada no álbum Come Away With Me, de 2002);
6- Tears Dry On Their Own, Amy Winehouse (lançada no álbum Back to Black, de 2006);
7- Love Is A Losing Game, Amy Winehouse (lançada no álbum Back to Black, de 2006);
8- Don't Let Me Be Misunderstood, Nina Simone² (incluída no álbum O Melhor de Nina Simone, de 2003);
9- Right To Be Wrong, Joss Stone (lançada no álbum Mind Body & Soul, de 2004);
10- Here With Me, Dido (lançada no álbum No Angel, de 2001).

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¹) Across The Universe é um filme pra ser visto e, principalmente, escutado.
Garanto que até os mais resistentes a musicais vão gostar desse filme. Porque não gostar de musicais é uma coisa, mas não gostar de Beatles já é uma insanidade. Enjoy it!

²) Fui apresentada à obra de Nina Simone esses dias. Ok, eu confesso minha ignorância. Mas nunca é tarde pra se fazer as pazes com o bom gosto. Estou me deliciando!

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PS.> Meu repertório não é feito só de jazz/soul/folk. Também ando escutando The National, uma bandinha americana bem bacana de indie/rock, que também fui apresentada há pouquíssimo tempo, mas que já me é bem familiar. E com atenção especial para a música Slow Show - um presente - do álbum Boxer, de 2007.