segunda-feira, 26 de maio de 2008

Querer não é poder

"Desculpem o trocadilho infame, mas a vida é feita de altos e baixos. Altos, fortes, morenos, sensuais, possíveis, e aquele baixinho, meio esquisito, que não sai da sua cabeça.
Impressionante como a gente sofre por nada. Um cheiro que mexe com você, um jeito de olhar contido, uma idéia inteligente, várias na verdade. Não, não é nada disso, a gente sofre é pela impossibilidade (...)
(...) Pois é, aquele baixinho esquisito não pertence ao grupo dos amores possíveis, a graça dele pode durar uma eternidade, dependendo do seu grau de estupidez criativa.
Ele não quer nada com você, já tem alguém, pertence a um caminho que passa longe do seu, sabe cumé? (...)
(...) E nada melhor do que as lacunas da improbabilidade para esquentar uma paixão. Nessas lacunas você tem espaço para criar a história como quiser, ganha poder, inventa. Ele é seu, seu personagem.
Nesses espaços livres você coloca todos os seus sonhos, toda a sua imaginação. Cenas completas com fundo musical e palavras certas, finais e desfechos inesperados.
Quando você menos espera, ele faz mais parte da sua vida do que você mesma.
Mas a realidade aparece mais cedo mais tarde, vem como uma angústia. Parece vontade de fazer xixi, mas é tesão reprimido. Tesão reprimido deve dar câncer. Era só um cara interessante, agora pode te matar (...)
(...) Como você é ridícula, amor platônico é para adolescentes.
Lá fora há milhares de possibilidades de felicidade, de felicidades possíveis. De realidade. E você eternamente trancada na porta que o mundo fechou na sua cara. Fazendo questão de questionar e atentar o inexistente.
Vá viver um grande amor.
Olha, faça um favor para mim, antes de tremer as pernas pelo inconquistável e apagar as luzes do mundo por um único brilho falso, olhe dentro de você e pergunte: estupidez, masoquismo ou medo de viver de verdade?" Tati Bernardi

Música do Dia: O Nosso Amor a Gente Inventa, Cazuza.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Objeto de desejo

"Seus dedos na minha pele são arrepios. Todos os pêlos, curiosos, levantam-se para ouvir o suspiro. E, comemorando a vitória da pele sobre as palavras, acompanham seus dedos em ola, arrepiando-se, arrepiados. Seus dedos que, de tão leves, escorregam sobre minha pele, cortando-me em quatro pedaços." Rita Apoena

O improvável às vezes acontece. Me perdi ontem, atraída por suas mãos propositadamente tocando as minhas, por suas palavras doces e obscenas sussurando ao meu ouvido - por vezes uma mordida - por não pedir licença e encostar seu corpo no meu, por seu pedido pra que eu não fosse embora, pela transparência do seu desejo.

Fico lembrando da ardência dos beijos, e da vontade de terminar o que começamos. Sinto frio na barriga até agora, e carrego hoje um constante sorriso no canto da boca.

Ainda mato essa vontade!

Música do dia: I Wish, Infected Mushroom.

domingo, 18 de maio de 2008

Ser feliz

"Às vezes a distância é a melhor coisa que pode acontecer (...)

(...) Quando algo começar a te enlouquecer, infernizar ou surtar, use a técnica dos grandes admiradores de arte: recue diante da tela, mude de ângulo em relação a ela, observe as cores, os traços e os detalhes que, na correria, sempre passam despercebidos. Então notará que ela é muito mais do que aquele ponto preto que ficava, insistente, diante dos seus olhos.

Ser feliz, no final das contas, não é questão de sorte ou azar. É questão de perspectiva." Ailin Aleixo


Músicas do dia: Only Time, Enya; O Vento, Los Hermanos.

terça-feira, 13 de maio de 2008

"Y" de vingança

Minha índole não é daquelas que arquiteta planos pra se alcançar um objetivo. Ainda mais contra outra pessoa.
Não sou o tipo de pessoa que gosta de sentir o sabor da vingança concretizada, como um sonho de muito tempo que se realiza. Nunca funcionou assim comigo.
"Às vezes pra dar o melhor soco, é preciso se afastar". Não lembro quem disse isso, mas concordo em gênero, número e grau.
Pra mim, o contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença.
Se me magoam e decepcionam, eu simplesmente tento me reerguer e ver a pessoa que me maltratou de cima, à distância, e ser indiferente. Demonstrar que ela é insignificante, e que me importar seria entregar minha fraqueza. Não desço do meu pedestal por nada - mesmo porque, no auge do meu sofrimento já devo ter descido todos os níveis de decência e orgulho.
Usar do artifício da vingança acaba me fazendo mais mal do que ao objeto massacrado.
Mas encontrei uma pessoa que soube fazer direitinho isso por mim. Por nós.
Uma certa senhorita, super querida, mas com uma alma vingativa e endiabrada.
Nela se resume tudo o que não consigo ser, e por isso mesmo, me senti fortalecida em conhecê-la e fazer parte do seu mundo.
Um dia desses vi toda sua revolta se manifestar na minha frente, aniquilando nosso inimigo, tornando-o mais pérfido do que ele costumava ser, mas totalmente desequilibrado e submisso. E o engraçado é que consegui ter pena dele.
E isso me confundiu. Todos os sentimentos se misturaram. Minha cabeça ficou cheia de indagações, latejando a cada impressão sobre aquela noite.
Ela ainda sente algo por ele, ao contrário do que grita aos quatro ventos, ou é só mais um sentimento mal resolvido? Ela quer mesmo ser minha amiga, ou eu sou só mais uma peça no tabuleiro que ela montou pra consumar sua vingança? Agi corretamente em estar com ela? Posso confiar nessa amizade? Ela é mesmo a menina sincera que eu aprendi a gostar e admirar?
Ele gostou dela de verdade, e não de mim? Eu fui mesmo só mais uma, ou ele tem um carinho e um respeito por mim que eu realmente nunca quis enxergar, sentimentos esses que ele não tem por ela? Ele me amou um dia, ou só consumiu tudo que podia de mim, até encontrar outra que podia lhe dar mais? Ele me vê como ela? O que ele pensou em nos ver juntas? E fiz certo em não dar atenção às desculpas que ele me pediu?
E principalmente, porque ainda perco tempo pensando em tudo isso?
Só sei que, depois de todo o ocorrido, pensei em procurá-lo pra saber como estava. Fiquei balançada em saber se os socos que o atingiram doeram mais por dentro do que qualquer seqüela externa. Tenho certeza que sim.
Mas que diabos me interessa saber como ele está, se ele nunca se importou com meus sentimentos?
Resolvi ficar quieta, como sempre fui. Calma, introspectiva, sofrendo sozinha por dentro, com a conhecida falsa indiferença.
Por isso, talvez, aquela certa senhorita seja mais feliz do que eu, esbajando sua raiva, mesmo correndo o risco de ser ridícula.
E talvez ridícula seja eu, por saber que depois de tudo, ele ainda mexe comigo. E de constatar que, como tudo o que vivi com ele, o sentimento da vingança não me trouxe nada de bom.

Música do dia: Evidence, Faith No More.