terça-feira, 13 de maio de 2008

"Y" de vingança

Minha índole não é daquelas que arquiteta planos pra se alcançar um objetivo. Ainda mais contra outra pessoa.
Não sou o tipo de pessoa que gosta de sentir o sabor da vingança concretizada, como um sonho de muito tempo que se realiza. Nunca funcionou assim comigo.
"Às vezes pra dar o melhor soco, é preciso se afastar". Não lembro quem disse isso, mas concordo em gênero, número e grau.
Pra mim, o contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença.
Se me magoam e decepcionam, eu simplesmente tento me reerguer e ver a pessoa que me maltratou de cima, à distância, e ser indiferente. Demonstrar que ela é insignificante, e que me importar seria entregar minha fraqueza. Não desço do meu pedestal por nada - mesmo porque, no auge do meu sofrimento já devo ter descido todos os níveis de decência e orgulho.
Usar do artifício da vingança acaba me fazendo mais mal do que ao objeto massacrado.
Mas encontrei uma pessoa que soube fazer direitinho isso por mim. Por nós.
Uma certa senhorita, super querida, mas com uma alma vingativa e endiabrada.
Nela se resume tudo o que não consigo ser, e por isso mesmo, me senti fortalecida em conhecê-la e fazer parte do seu mundo.
Um dia desses vi toda sua revolta se manifestar na minha frente, aniquilando nosso inimigo, tornando-o mais pérfido do que ele costumava ser, mas totalmente desequilibrado e submisso. E o engraçado é que consegui ter pena dele.
E isso me confundiu. Todos os sentimentos se misturaram. Minha cabeça ficou cheia de indagações, latejando a cada impressão sobre aquela noite.
Ela ainda sente algo por ele, ao contrário do que grita aos quatro ventos, ou é só mais um sentimento mal resolvido? Ela quer mesmo ser minha amiga, ou eu sou só mais uma peça no tabuleiro que ela montou pra consumar sua vingança? Agi corretamente em estar com ela? Posso confiar nessa amizade? Ela é mesmo a menina sincera que eu aprendi a gostar e admirar?
Ele gostou dela de verdade, e não de mim? Eu fui mesmo só mais uma, ou ele tem um carinho e um respeito por mim que eu realmente nunca quis enxergar, sentimentos esses que ele não tem por ela? Ele me amou um dia, ou só consumiu tudo que podia de mim, até encontrar outra que podia lhe dar mais? Ele me vê como ela? O que ele pensou em nos ver juntas? E fiz certo em não dar atenção às desculpas que ele me pediu?
E principalmente, porque ainda perco tempo pensando em tudo isso?
Só sei que, depois de todo o ocorrido, pensei em procurá-lo pra saber como estava. Fiquei balançada em saber se os socos que o atingiram doeram mais por dentro do que qualquer seqüela externa. Tenho certeza que sim.
Mas que diabos me interessa saber como ele está, se ele nunca se importou com meus sentimentos?
Resolvi ficar quieta, como sempre fui. Calma, introspectiva, sofrendo sozinha por dentro, com a conhecida falsa indiferença.
Por isso, talvez, aquela certa senhorita seja mais feliz do que eu, esbajando sua raiva, mesmo correndo o risco de ser ridícula.
E talvez ridícula seja eu, por saber que depois de tudo, ele ainda mexe comigo. E de constatar que, como tudo o que vivi com ele, o sentimento da vingança não me trouxe nada de bom.

Música do dia: Evidence, Faith No More.

2 comentários:

Déa disse...

Pois eu morro de inveja da sua altivez! Amaria não descer do salto por nada!!!! Menina, você é show! Só precisar lembrar disto! Beijos

J. disse...

Mas às vezes queria ter coragem e vontade de levantar poeira. Botar pra fora esses sentimentos enraizados em mim. Tem gente que é assim e é mais feliz. Mas concordo com vc em uma coisa. Sou show mesmo, como vc também é. A autenticidade faz a gente ser assim. Obrigada pelas palavras!