domingo, 13 de julho de 2008

Tentação

Mais uma vez ela caiu em tentação.
Achava até que nunca mais fosse provar daquele gostinho bom. Tinha saudade. Adorava mexer com fogo, mesmo sabendo que ia acabar se queimando.
Há algum tempo que nada acontecia, estava tudo calmo demais. Pelo menos aparentemente. Precisava que seus atos seguissem seu coração.
Foi quando ela procurou a tentação em pessoa.
Olhou nos olhos dela. Ouviu sua voz. Sentiu sua respiração.
"Tentação é o sentimento que alguém tem quando deseja tomar uma atitude que contraria seus valores e crenças." E era assim que ela se sentia. Contrariando o bom senso, mas seguindo uma vontade incontrolável.
Sabia que nessa história existiam dois lados. Um que repele e outro que atrai. Mas onde começava um desses sentimentos e terminava o outro? Não sabia responder. Ontem à noite ela não tinha respostas, nem procurou por elas.
A tentação se personificou nele. E ela só conseguia ver como ele era lindo. Como sua conversa era interessante. Só conseguia sentir como seu beijo era bom. Seu coração tendia pro dele mais que nenhum outro.
Amanhã eu penso nisso, falava pra si mesma. Por que não aproveitar essa noite? O outro dia estava tão distante...e ela tinha mais coisas com que se preocupar.
Como, por exemplo, as mãos dele afundadas no seu corpo. As palavras pronunciadas com aquela voz rouca ao seu ouvido. A pressão do quadril dele no seu. O sorriso que a rasgava por dentro.
Aliás, por que nunca tinha prestado atenção naquele sorriso? Era limpo, solto. Nessa noite ele tinha o sorriso mais lindo do mundo. Era fácil se derreter com ele.
Talvez não tivesse notado antes porque não tirava os olhos daquele azul hipnotizante. Devia ser isso.
Mas ali, naquele momento só deles, deu tempo de ver tudo, cada detalhe. Tudo foi tão natural, se encaixou tão perfeitamente, que ela descobriu que podia fazer isso todo dia. Sem enjoar. Assim, ceder completamente era fácil.
Não queria que ele saísse da sua cama, quanto mais da sua vida. Queria paralisar aquele instante. Por isso, nem chegaram a dormir. Uma noite era pouco pros dois.
Mas, sem perceber, o sol despontou avisando que era hora de se separar dele. Fingir normalidade. Encarar a realidade sem ele.
E ela passou o dia meio anestesiada. Era uma mistura de euforia e melancolia que ela não sabia explicar. Não sabia o que falar pras pessoas que perguntavam o porquê daquele olhar diferente.
Só podia dizer que tinha tido um sonho bom. E que pra acordar foi complicado.
O pior foi voltar pra casa no final do dia. Doeu seu coração.
Ver a bagunça deixada pelos atos da noite anterior lhe renderam vários minutos de suspiro. Queria deixar tudo como estava. Talvez assim ela sentisse a presença dele ali por mais tempo.
Ficou imóvel por vários instantes, deitada, encolhida na cama. Sentir que o cheiro dele continuava nos lençóis a fez chorar. Dormiu sentindo o vazio de quem erra.
Mas não podia se lamentar. Ela procurou por isso, sabia que ia ser assim.
E queria mais.
É incrível como só um empurrãozinho pôde jogá-la no abismo de novo. E sem fundo.

Músicas do dia: Azul, Djavan; Espelhos D'água, Beto Guedes.

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